A Igreja acredita na possibilidade de aparições e revelações particulares, pois estas ocorreram desde os tempos bíblicos (a São Paulo, a São Pedro, a Sto. Estevão…) através dos séculos até nossos tempos. Todavia, como Mãe e Mestra, a igreja é prudente e não se precipita no julgamento dos fenômenos. Manda examiná-los por peritos; em alguns casos, o laudo daí resultante é negativo (pois se verifica doença mental ou algum fator de ordem moral incompatível com uma intervenção do céu); em outras ocasiões, o laudo pode ser favorável ao culto da Virgem Santíssima, como decorre dos fenômenos avaliados (são os casos de Lourdes e Fátima); em outras situações ainda, não aparece por que condenar os fenômenos, como também não há por que lhes dar abono (ainda que indireto); em tais circunstâncias, a Igreja não interfere nas demonstrações de piedade ocorrentes nos lugares das supostas aparições, tendo em vista o aspecto pastoral ou os benefícios espirituais e físicos que resultam das peregrinações e celebrações ligadas a esses lugares.
Têm-se multiplicado, no Brasil e no estrangeiro, fenômenos de aparições atribuídas à Virgem Santíssima. As opiniões se acham divididas a respeito, pois, ao lado dos que creem facilmente numa intervenção do céu, há aqueles que recusam ceticamente dar-lhes crédito. Em muitos casos perguntam o que a Igreja pensa a respeito deste ou daquele caso ou no tocante às aparições em geral.
Vamos, pois, nas páginas subsequentes, apresentar as linhas-mestras da doutrina e da atitude da Igreja frente ao fenômeno “Aparições”, valendo-nos especialmente do opúsculo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil intitulado “Aparições e Revelações Particulares” (Coleção “Subsídios Doutrinais da CNBB” n°1).
Além desses, citam-se no Brasil muitos outros relatos de fatos extraordinários, como o de Dona Edelmira de Paiva Nunes: o forro de sua casa desabou, deixando intacta a imagem de Nossa Senhora; vários romeiros teriam visto a imagem de Nossa Senhora da Penha lacrimejar, no Rio, 1984; a Igreja de Nossa Senhora da Rosa Mística, em Juiz de Fora, teria vertido água; o altar de Nossa Senhora da Rosa Mística, em Jacarezinho, no Paraná, também teria vertido água, em 1987; o mesmo teria acontecido em Oliveira Fortes; Minas Gerais, com três quaresmeiras. Fora do Brasil, um elenco de aparições no século XX encontra-se em PR 390/1994, pp. 508-510.
Repetimos a afirmação básica: não é obrigatório nem possível dar às revelações privadas um assentimento de fé católica, mesmo que tais revelações tenham sido aprovadas pela Igreja. É importante que o leitor tenha isso bem presente, para que não se pense que é pecado colocar-se contra uma revelação privada. Ouçamos o cardeal Pitra: "Sabemos que somos plenamente livres de crer ou não nas revelações privadas, mesmo nas mais dignas de fé. Mesmo quando a Igreja as aprova, elas são recebidas como prováveis e não como indubitáveis (…) É totalmente permitido afastar-se dessas revelações, mesmo aprovadas, quando alguém se apoia sobre razões sólidas, sobretudo quando a doutrina contrária é estabelecida por documentos inatacáveis e uma experiência certa." (Livro sobre Santa Hildegarda, p. XVI) E não se admire o leitor de que mesmo em revelações aprovadas de pessoas canonizadas existam erros dos mais variados tipos. Vale a pena conhecer algumas causas de erros que podem ocorrer numa revelação verdadeira, ou tida como tal em determinada época.
1) Interpretações incorretas: Não é incomum que o próprio vidente possa interpretar mal a revelação que recebe. Isso se deve, em primeiro lugar, à obscuridade da revelação, sobre a qual o vidente possui uma inteligência apenas parcial. Há também outras causas, como por exemplo o apego do vidente a certos preconceitos que interferem na correta compreensão da mensagem recebida. O exemplo clássico é o de São Pedro, que teve a visão de uma toalha contendo diversos animais, enquanto uma voz por três vezes lhe dizia: "Levanta-te Pedro, mata e come." Ele acreditou que se tratasse de sua alimentação, tanto mais que teve a visão quando estava com fome e lhe preparavam o almoço. (Atos, X, 10). Inicialmente ele não compreendeu o sentido simbólico da visão, que tinha por objetivo convencê-lo de que devia batizar os pagãos sem lhes impor primeiro as práticas da lei mosaica.
2) Imprópria consideração dos elementos históricos: Engana-se frequentemente aquele que atribui aos detalhes históricos de uma revelação ou visão uma exatidão absoluta. Detalhes como a paisagem, o tipo de roupa, a língua falada, os costumes locais, quase sempre estão em desacordo com os conhecimentos históricos ou senão, diferem consideravelmente mesmo em santos que tiveram visões sobre o mesmo tema. Quando Deus dá uma visão a uma alma, é para a sua santificação pessoal e não para satisfazer a curiosidade histórica. Há inúmeros exemplos desse engano em visões sobre a paixão e morte de Nosso Senhor.
3) Intromissão da atividade humana na ação sobrenatural: Engana-se aquele que pensa que uma revelação não diabólica ou é inteiramente divina ou inteiramente humana; o espírito humano pode imiscuir-se, em certa medida, na ação sobrenatural, alterando partes da revelação. Catarina Labouré, por exemplo, fez predições verdadeiras com até quarenta anos de antecedência, e fez também predições falsas. Santa Hildegarda é outro exemplo: analfabeta, ela compunha e ditava textos em latim. Suas numerosas obras inspiradas, entretanto, contém os erros científicos de sua época. Embora nos repugne encontrar erros em revelações recebidas por santos e santas, a lição que daí se tira não é a de que se deve desprezá-las por completo, mas sim que se deve abandonar a ideia tão popular e romântica de que tudo que vem da parte de um santo é infalível. (O leitor interessado em conhecer mais profundamente os exemplos de erros em revelações aprovadas deve consultar a obra clássica de A. Poulain, "Des Grâces d’Oraison", na qual este artigo foi baseado).
Em conclusão podem-se citar as palavras de D. Boaventura Kloppenburg:
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